Paisagem de Caatinga. Foto Wikipedia
Considerado o único bioma exclusivamente brasileiro, a Caatinga possui atualmente metade de sua cobertura vegetal original. Em 2008, a vegetação remanescente da área era de 53,62%. Dados do monitoramento do desmatamento no bioma realizado entre 2002 e 2008 revelam que, neste período, o território devastado foi de 16.576 km2, o equivalentente a 2% de toda a Caatinga. A taxa anual média de desmatamento na mesma época ficou em torno de 0,33% (2 763 km²).
Em entrevista coletiva realizada ontem (02/3) para divulgar os números deste levantamento, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que o índice é alto, considerando-se que a região é a mais vulnerável do País aos efeitos das mudanças climáticas, com forte tendência à desertificação.
De acordo com os dados do monitoramento, a principal causa da destruição da Caatinga deve-se à extração da mata nativa, que é convertida em lenha e carvão vegetal destinados principalmente aos pólos gesseiro e cerâmico do Nordeste e ao setor siderúrgico de Minas Gerais e do Espírito Santo. Outros fatores apontados foram as áreas criadas para biocombustíveis e pecuária bovina. O uso do carvão em indústrias de pequeno e médio porte e em residências também foi indicado.
“Para reverter a situação é importantíssimo pensarmos em uma matriz energética diferente para a região, como energia eólica, gás natural e pequenas centrais hidrelétricas”, completou o ministro. Dentre as ações de mitigação previstas, estão a recuperação de solos e micro-bacias, o reflorestamento e as linhas de crédito para combate à desertificação.
Carlos Minc revelou que o Banco do Nordeste estuda a criação do Fundo Caatinga, e que o Banco do Brasil tem a intenção de implementar o Fundo contra a Desertificação. O MMA pretende destinar ao Nordeste cerca de R$500 milhões oriundos do Pré- Sal para o Fundo Clima. O Ibama já planeja 25 grandes operações de combate ao desmatamento e ao carvão vegetal ilegal na região, que devem ocorrer simultaneamente a partir deste mês.
Área
Com uma área total de 826.411 km², a Caatinga está presente nos estados da Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Maranhão, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Minas Gerais. Os dois primeiros desmataram sozinhos a metade do índice registrado em todos os estados. Em terceiro e quarto lugar estão o Piauí e Pernambuco. Já o estado de Alagoas, por exemplo, possui atualmente apenas 10.673 km² dos 13.000 km² de área de caatinga originais.
Os municípios que mais desmataram foram Acopiara(CE),Tauá(CE), Bom Jesus da Lapa (BA),Campo Formoso(BA), Boa Viagem(CE),Tucano(BA), Mucugê(BA) e Serra Talhada(PE)(confira as taxas por estado e municípios nos links abaixo).
O padrão de desmatamento observado no bioma é pulverizado, o que dificulta as ações de combate à prática. De acordo com Luciano Menezes, diretor de Proteção Ambiental do Ibama, o monitoramento é muito importante para a elaboração de um plano de combate ao desmatamento e de mitigação dos efeitos desta prática. Por isso, será lançado em 28 de abril o Plano de Combate ao Desmatamento na Caatinga (PPCaatinga), que no futuro deve ser incorporado ao Plano Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Para amenizar os efeitos da desertificação no semi-árido brasileiro, amanhã (03/3) terá início em Petrolina(PE) e Juazeiro(BA) uma reunião que vai tratar do Plano de Combate à Desertificação no Nordeste. O evento terá a participação de todos os governadores e secretários de Meio Ambiente da região.
Ações de combate
Estudos revelam que o Nordeste pode perder um terço de sua economia até o final do século com os efeitos do aquecimento global e da desertificação. O ministro Minc revelou que foi feito um acordo com o governo do Piauí para a criação da maior unidade de conservação da Caatinga nas Serras Vermelha e da Confusão. A área terá cerca de 550 mil hectares. Além desta, a criação de novas unidades de conservação também é indicada como fator de proteção ao bioma.
A secretária de Biodiversidade e Florestas do MMA, Maria Cecília Wey de Brito, explica que a Caatinga tem apenas 7% de áreas protegidas, somando áreas estaduais e federais, sendo que 2% são de proteção integral e os outros 5% são de unidades de conservação de uso sustentável. Ela também aponta a importância da Caatinga como habitat de espécies endêmicas (que só ocorrem em uma determinada região) em extinção, como a arara-azul-de lear, além, de lagartos, anfíbios e pequenos roedores.
Metodologia
O monitoramento foi feito por 25 técnicos contratados pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e por analistas ambientais do MMA e Ibama, que utilizaram como referência o mapa de cobertura vegetal do MMA/Probio(programa de levantamento da cobertura vegetal do Brasil que detectou as áreas de vegetação nativa e antropizadas até o ano de 2002), bem como imagens de satélite.
Também foi realizado um fórum técnico científico para discutir os dados finais com especialistas em mapeamento da caatinga.O detalhamento do mapa base do Probio em 2002 tinha uma escala de 1:250.000. Já o utilizado neste levantamento teve uma escala de 1:50.000. A precisão na identificação dos desmatamentos foi de 98,4%.
De acordo com o ministro Minc, o MMA pretende realizar o mapeamento e monitoramento dos cinco biomas brasileiros (cerrado, caatinga, pantanal, pampa e mata atlântica) até o final do ano.
Para mais informações, acesse os portais de acesso aos dados:
http://www.mma.gov.br/portalbio
Texto de Carine Corrêa, MMA, publicado pelo EcoDebate, 03/03/2010